sexta-feira, 29 de outubro de 2010

50 anos do Curso de Pedagogia da UFSC

Fazer 50 anos parece ser muito emblemático, mas ao mesmo tempo, é uma data muito especial, que dificilmente se deixa passar em branco ou sem ao menos fazer um encontro, uma festa, afinal, não é pouca coisa. E se quando alguém faz 50 anos necessariamente pensa na vida que viveu, no que fez e no que ainda pretende viver e fazer diante do tempo que está por vir, diferente parece ser o caso quando uma instituição ou mesmo de um curso faz 50 anos, onde o peso da história não apenas fortalece mas de certa forma projeta uma cultura e tradição.

Assim, por ocasião dos 50 anos do Curso de Pedagogia da UFSC, o PET/Pedagogia organizou um evento para registrar a história do curso e pensar os desafios atuais da formação de professores. Com a participação dos Professores Antonio Cesar Becker, Guiomar Osório de Senna, Maria Ismênia Ribeiro Gonçalves e Leda Scheibe, a mesa redonda percorreu o curso de Pedagogia em 50 anos de UFSC, trouxe histórias e memórias de estudantes, professores e coordenadores que passaram pelo curso e discutiu as perspectivas atuais. Isso tudo permeado com histórias de vida, exemplos e curiosidades de um tempo que não existe mais, e por isso mesmo interpela aos que hoje estão atuando no curso.

Como atual coordenadora, foi interessante saber que o Curso existia antes da UFSC, pois fazia parte da Faculdade Catarinense de Filosofia, posteriormente transformada em Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e incorporada recém criada universidade em 1960.  A partir de 1961, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras foi organizada em seis departamentos: Departamento de Filosofia, de Geografia, de História, de Letras, de Matemática e de Pedagogia, sendo que cada departamento abrigava um curso que aglutinava as cadeiras responsáveis por sua composição curricular. Assim, o Curso de Pedagogia da UFSC foi criado por meio do Decreto 47.672 de 1.10.60 sendo o primeiro curso de pedagogia do estado. (parte dessa história pode ser encontrada na Tese de Doutorado de Letícia Carneiro Aguiar, O curso de Pedagogia em Santa Catarina: a história da sua criação no contexto do projeto desenvolvimentista da década de 1960. Tese de Doutorado. PPGE/UFSC, 2006)

Entre fragmentos da história e o encontro com professores que fizeram parte de minha trajetória, os depoimentos dados me fizeram pensar no quanto foi feito e no quanto ainda temos por fazer para pensar a formação de professores como fato científico, inseparável de suas dimensões éticas e estéticas.

Considerando que a Pedagogia existe no Brasil desde 1939, significando uma conquista e um espaço importante na universidade brasileira  e percorrendo um caminho para constituir-se como ciência mais que uma profissão, a história desse percurso revela momentos muito esclarecedores da atual condição. Formando diferentes perfis profissionais - do professor normalista ao professor de Educação Infantil e Anos Iniciais, dos generalistas aos especialistas e gestores da educação – e atravessando diferentes propostas curriculares - dos currículos mínimos às atuais diretrizes curriculares -, percebemos que o embate entre a Pedagogia como campo do conhecimento e teoria da educação, e Pedagogia como curso e profissionalização está presente até hoje. No entanto, se a discussão sobre Pedagogia ser ciência ou ser uma prática hoje está quase fora de questão, não podemos negar o reconhecimento de que há um conhecimento pedagógico científico porque há um método e se pode  estudar cientificamente o fato pedagógico, como bem lembrou Leda Scheibe.

E diante dos fatos pedagógicos presentes entre as reformas curriculares e o processo de implantação/avaliação de novos currículos de Pedagogia que acompanhamos neste momento  em que vivemos a “universidade operacional”, fica a certeza da necessidade de redefinir o que entendemos por formação.

Ao discutir o conceito de formação na conferência de abertura da 26ª Reunião Anual da ANPED, A universidade pública sob nova perspectiva, a filósofa Marilena Chauí  instiga  o nosso pensar. Como a própria palavra sugere uma relação com o tempo, formação poderia ser o processo de introduzir alguém ao passado de sua cultura, no sentido antropológico do termo, como ordem simbólica ou de relação com o que já não existe mais na perspectiva de entender o momento atual e nele atuar. Ou seja, seria um despertar de questões que o passado configura no presente pensando no vir a ser, como a analogia com a obra de arte que Chauí faz a partir de Merleau Ponty: “a obra de arte recolhe o passado imemorial contido na percepção, interroga a percepção presente e busca, com o símbolo, ultrapassar a situação dada, oferecendo-lhe um sentido novo que não poderia vir à existência sem a obra”. De forma análoga, a autora enfatiza que a obra do pensamento só pode ser fecunda quando pensa e diz o que de outra forma não poderia ser pensado e dito, e quando pelo próprio excesso nos dá a pensar e a dizer criando possibilidades de superação a posteriori. Assim, podemos dizer que “há formação quando há obra de pensamento e que há obra de pensamento quando o presente é apreendido como aquilo que exige de nós o trabalho da interrogação, da reflexão e da crítica, de tal maneira que nos tornamos capazes de elevar ao plano do conceito o que foi experimentado como questão, pergunta, problema, dificuldade”.

Certamente poderíamos ampliar tal conceito no sentido de pensar nas diversas formas de conceituar as experiências hoje, propiciadas pelas tecnologias e seus diferentes modos de relação, produção e expressão ética-estética que possibilitam e que também nos formam.

E diante desse e outros possíveis entendimentos sobre a formação, uma pergunta: o quê e como o Curso de Pedagogia da UFSC está formando, de fato, nesses 50 anos? 

Foto: Livro 1, Atas da Congregação, p.157

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