sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Estudos culturais e a pesquisa em educação

Na seqüência da participação especial no Seminário de Dissertação Educação e Comunicação I, que ministro no PPGE/UFSC, no encontro dessa semana, nosso convidado foi o Prof. Leandro B. Guimaraes que contou um pouco sobre sua trajetória de pesquisador e suas aproximações com os Estudos Culturais e a pesquisa em educação. 

A história da linha pesquisa dos Estudos Culturais Educação, na UFRGS, foi se construindo desde 1996 na área de Currículo, e não é a toa que até hoje os estudos do currículo em nosso país tem forte ênfase pós-estruturalista, com se pode ver nas produções do GT da Anped. Considerando que essa perspectiva hoje não seja hegemônica, é a noção de pedagogia cultural que passa a ser a unificadora das diferentes perspectivas. Considerando também que as verdades se reinventam, hoje a própria noção de pedagogia cultural está sendo revisitada, ou colocada sob rasura, como diz Leandro. Para ele, tal noção está diminuindo suas potencialidades para as investigações que vem operando, como sugere no texto Das pedagogias culturais aos dispositivos artísticos: (de) compondo educações ambientais. E então, junto a outras noções do contemporâneo que vão se configurando na sua pesquisa, ganha força a noção de dispositivo e de delicadeza.

No campo da pesquisa em educação nessa perspectiva, os conceitos de cultura, representação, identidade, consumo cultural, e resistência são fundamentais para entender o circuito da cultura (Stuart Hall, Johnson), os modos de produção e recepção dos artefatos culturais e  suas práticas de significação. No entanto, se a maioria das pesquisas nesse campo, fortemente amparado na matriz britânica dos estudos culturais, enfatiza o deslocamento do sujeito como enunciador, passando a pesquisar sobretudo os artefatos em si, o que representam em sua dimensão pedagógica (daí a importancia da pedagogia cultural), a vertente latino-americana começa a ganhar força como referencial das pesquisas na linha e recoloca o sujeito e a questão da produção dos artefatos em cena. Assim, os conceitos como hibridação, articulação e mediação vão complexificando as questões que vão sendo operadas no campo da pesquisa. 

Se nas pesquisas iniciais o político era mostrar como as produções eram feitas com a intenção de desnaturalizar o óbvio, novas questões vão sendo colocadas em cheque.

Afinal, o que quer a pesquisa? E o que a pesquisa passa a querer quando você é capturado por ela?, pergunta Leandro. E antes de responder sobre o papel da nossa agência, ou seja, sobre a possibilidade de agência da investigação, do pesquisador e do próprio campo político, o documentário Acontecências, de Alice Villela e Hidalgo Romero, instiga o nosso pensar.


A partir da narrativa fílmica, uma pesquisadora mostra e narra seu percurso investigativo em uma aldeia indígena e seu processo de transformação de si. Mostra como as perguntas e questões iniciais da pesquisa vão se transformando e construindo novos significados, sobretudo a partir da narrativa das imagens. E aqui, uma questão para o pesquisador pensar sobre a  diferença sutil entre se colocar no texto e viver a experiência da transformação de si. Experiência que não necessariamente garante a transformação do outro, experiência molecular, mas que pode ser geradora de micropolíticas que acontecem em âmbitos menores.

Certamente isso nos leva a pensar nas múltiplas significações que estão em jogo quando se faz pesquisa. Se entendermos a pesquisa como um ato criativo que potencializa espaços de criação, agência e expansão do pensamento e que pode disseminar a criação de alguma coisa, poderíamos acrescentar a dimensão da criação naquele circuito da cultura.  

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