terça-feira, 31 de maio de 2011

Educação, museu e memória



Ao participar da Mesa-Redonda “Museu, Educação e Memória: perspectivas de acesso ao patrimônio cultural”, no dia 30/05/2011 no Palácio Cruz e Souza, promovido pela Rede Educadores em Museus de Santa Catarina, ficou evidente a necessidade e a urgência do diálogo entre educação, cultura e museu. Diálogo este que, por mais óbvio que possa parecer, ainda precisa ser construído.

Nessa aproximação dos campos, surge a pergunta: como os museus estão se mostrando nessa sociedade complexa e plural? Que histórias e registros da memória cultural estão proporcionando às pessoas, e que possibilidades de estudo de identificação do universo pessoal e social da existência humana têm oferecido? Que cultura material e imaterial estão sendo expostas? Por outro lado, como a educação e mais especificamente, a formação inicial de professores, tem usufruído de tais espaços? Eles são entendidos como espaços importantes da formação cultural dos professores e estão contemplados na formação acadêmica e nos currículos dos cursos das diferentes licenciaturas?

Se mais importante que falar em espaço museal é discutir o processo museal num campo fluido, diversas pesquisas apontam que tanto o processo quanto o espaço museal ainda parecem estar distantes do cotidiano do professor. E mais, uma pesquisa  recentemente desenvolvida com professores da rede municipal sugere que entre os consumos culturais e as atividades do tempo livre, a ida aos museus é das menos escolhidas pelos professores, que em nosso contexto, raramente freqüentam tal espaço. 

Diante disso, os desafios para aproximar o museu da educação parecem ser imensos e mais do que mediações e pontes a serem construídas, há necessidade de políticas explícitas a esse respeito. Parece que eventos como esses são fundamentais para tal viabilizar tais aproximações e perguntar por quais caminhos, de que forma e com que parcerias é possível repensar os museus e obviamente, a formação de crianças, jovens e professores.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Outros olhares sobre as crianças


Ao abordar os diferentes aspectos epistemológicos do conhecimento que tem fundamentado as pesquisas sobre criança, infância e educação, o desafio lançado ao grupo de estudantes que fazem a disciplina Educação e Infância II no Curso de Pedagogia era identificar as contribuições das diversas áreas no estudo e na pesquisa em torno da infância. Para tal estamos na companhia de diversos autores que tem pesquisado a esse respeito. Ultimamente temos discutido: infância, pesquisa e relatos orais; questões éticas e teórico-metodológicas da pesquisa com crianças e mídia; significados de escola e saber para crianças de área rural; crianças entre a sedução e o perigo das cidades; concepções de infância em diferentes grupos indígenas; crianças e suas produções escolares; crianças, mídia e cotidiano; crianças e os repertórios lúdicos contemporâneos.
Uma pesquisa dialogando com a outra numa verdadeira polifonia onde os sujeitos de pesquisa eram na maioria das vezes, crianças. No entanto, uma das questões que mais chamou a atenção das estudantes foi a respeito da concepção de infância entre diferentes grupos indígenas.

Para além do estudo e discussão do texto, convidei uma ex-aluna do curso, Joana Mongelo, que é indígena, e que em 2008.1 eu tive a felicidade e o desafio de ser sua professora e acompanhar seu estágio na escola do ensino fundamental em uma Escola Indígena e bilíngüe, da Aldeia Guarani de Morro dos Cavalos, distante cerca de 40km de Florianópolis. Experiência sem igual. Na semana passada Joana gentilmente conversou com o grupo esclarecendo uma série de questões a respeito do lugar que a criança ocupa naquela cultura e a respeito de uma série de perguntas que as alunas haviam ficado intrigadas: questões sobre liberdade, respeito, autonomia, aprendizagens, brinquedo, arte, trabalho, tradição oral, acolhimento, relação com a natureza, vida e morte, sagrado e profano.

Entre tantas lições que aprendi com Joana quando acompanhava seu trabalho na escola,  sempre  tentando controlar o tempo para poder acompanhar o estágio das outras estudantes nem  uma escola pública da ilha, lembro que ela dizia: "a professora está sempre com pressa e que quem está apressado não ouve Deus". Aliás, ainda hoje ela fala que o “o juruá (forma de se referir aos brancos) é muito rápido e não presta atenção...”. Na verdade, Joana tem razão: tem tantas coisas que verdadeiramente não prestamos atenção, sobretudo a respeito da criança na escola.. Haja pesquisa para decifrar os enigmas da infância e tantas faltas de atenção!

Para compensar, nada como uma discussão sobre a importância da brincadeira na educação da criança, sobretudo quando pretendemos contribuir para a construção de uma “infância feliz e saudável”. Um bom começo foi visitar o acervo do Museu do Brinquedo da Ilha de Santa Catarina, em exposição permanente no hall da Biblioteca Central da UFSC, tanto para recuperar a magia de certos brinquedos de nossa infância quanto para entender os repertórios lúdicos atuais.

Fotos: Crianças brincando na Escola da Aldeia Guarani de Morro dos Cavalos;  Crianças visitando o  Museu do Brinquedo da Ilha de Santa Catarina (acervo da autora)

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Criação de redes entre pesquisadores


Nos dias 28 e 29 de abril de 2011, Juana M. Sancho e Fernando Hernandez, professores e pesquisadores da Universidade de Barcelona, estiveram na UFSC para conversar com professores, pesquisadores e estudantes da graduação e pós-graduação do Centro de Educação. A conversa foi muito estimulante e altamente inspiradora. Tentarei sintetizar alguns aspectos que chamaram minha atenção.

Ao situar o contexto da reestruturação da universidade espanhola, Juana apresentou a trajetória do grupo de pesquisa que eles coordenam, o Esbrina - Subjectivitats i entorns educatius contemporanis, a equipe de pesquisadores, os princípios orientadores do grupo e a dinâmica de trabalho que eles vêm construindo e consolidando nos últimos anos.

Diante de um cenário em que as demandas e exigências de diferentes instituições e agências de fomento têm imposto um viés cada vez mais competitivo entre os grupos, fazer pesquisa e divulgá-la no mundo torna-se uma atividade mais que necessária, vital para o cientista e pesquisador. E a forma que o ESBRINA encontrou para ser um grupo consolitat na Espanha, validado e certificado a partir de rigorosos critérios de avaliação, foi a construção de parcerias.

“As redes importantes são as pessoas que você conhece”, disse Juana, destacando uma condição para o trabalho de pesquisa e existência de grupos consolidados no contexto atual. “Ou estamos em rede ou não estamos. Ou aplicamos projetos coletivos ou não somos pesquisadores hoje”. No entanto, não basta apenas juntar grupos, sendo necessário interrogar a força de pesquisa dos grupos de cada universidade. Se for só um, dificilmente se sustenta.  E isso de certa forma referenda o que temos buscado construir no grupo de pesquisa que coordeno, pois parece que estamos no caminho certo quando buscamos diálogo e parceria com outros pesquisadores.

E assim fomos conhecendo um pouco do processo de construção coletiva do grupo Esbrina, que em catalão significa indagar, mirar. É formado por 37 professores e pesquisadores de diferentes grupos e instituições em que o trabalho de liderança pedagógica é muito importante para autorizar a todos aprender e ensinar. Aliás, uma característica do grupo que ficou evidente é a atuação de cada um a partir de uma decisão coletiva, fundamental para implicar a todos no trabalho.

O grupo se reúne periodicamente com reuniões de formação em que as pessoas se comprometem a participar de projetos coletivos e colaborativos a partir de estudos desenvolvidos no grupo. “Se as pessoas não produzem ‘produção científica’, não participam do grupo Esbrina”, enfatiza Juana. E continua: “para estar no grupo e ser membro participante é necessário se comprometer em publicar pelo menos 2 artigos por anos em revistas indexadas”, esclarecendo que “se a pessoa não quiser ser participante, pode ser apenas colaborador”. Afinal, “o grupo tem que produzir não só projetos, mas produção científica”, pois sabemos que é pesado carregar quem  não produz. E com todas as críticas que se possa fazer em torno da questão dos tipos de produção e avaliação, um contraponto é a possibilidade de “ficar feliz em ser avaliado porque pelo menos alguém te olha... “

Mas por que destacar esses detalhes de participação se cada grupo tem sua história, identidade e  especificidade? Justamente pela possibilidade de troca e de aprendizagem, uma vez que essa questão tem sido muito discutida entre nós, sobretudo nos últimos meses, e diante da dificuldade que certos grupos de pesquisa encontram para organizar seus trabalhos e assegurar uma participação efetiva de seus membros e realmente comprometida com os interesses do grupo.

Outro aspecto que chamou minha a atenção é o belo trabalho de divulgação e socialização  dos projetos e da produção acadêmica que o Esbrina faz em seu repositório digital, construído  no site do grupo mantido por um funcionário altamente capacitado, um engenheiro de informática que também se interessa por temas da educação. Isso nos faz pensar na dificuldade  que enfrentamos diante de condições tão precárias de trabalho, quando por vezes nem é possível assegurar a presença de bolsistas para manter o site do grupo atualizado.

Movendo-se em diversos projetos nacionais e internacionais e com a perspectiva de uma  Rede e Criação de Centro de Excelência em Pesquisa e Inovação Educativa,  é importante  destacar que o Esbrina atua a partir de 3 Linhas de pesquisa: Aspectos institucionales, organizativos y simbólicos de los entornos educativos en contextos de cambio y complejidad;  Subjetividades emergentes, lenguajes y sistemas de inclusión y exclusión en la sociedad contemporânea;  Cultura visual y tecnologías del aprendizaje en la sociedad del conocimiento.

Diante do que foi brevemente exposto, parece inevitável inúmeros pedidos de pesquisadores para trabalhar junto a esse grupo. E para acolher dignamente Prof. Convidados, Prof. Visitantes, Pós-doc e Bolsistas com estágio no exterior, o grupo decidiu não receber mais de 2 pesquisadores por vez em cada campo de trabalho, a fim de assegurar boas condições a cada um. 

Por fim, aliado ao trabalho do Esbrina, Juana e Fernando destacaram a articulação do trabalho de pesquisa com o Centro de Estudios sobre el Cambio en la Cultura y la Educación, CECACE, e com o INDAGA-T. Afavoriment de l’aprenentatge autònom i col·laboratiu a través de la indagació i la utilització de tecnologies digitals. A respeito desse projeto, ao explicitar a filosofia e seus princípios de trabalho no contexto da inovação docente, Fernando finalizou com a pergunta: “Que estratégias de mudanças estamos desenvolvendo em nossa experiência pedagógica?”  

Sem dúvidas, uma boa indagação...