domingo, 18 de março de 2012

Trabalho em rede: educação, articulação social e desenvolvimento sustentável

A Exposição “Energia”, organizada pelo SESC/SP, Itaquera (concepção artística de Ari Perez e Tero Engenharia ea curadoria científica de pesquisadores da FAPESP) teve até agora cerca de 500 mil visitas. Com grande apelo visual e interativo, o público em geral e as crianças em particular entram  em contato com o tema da energia de maneira ampla e diversificada: uma viagem pela história da humanidade a fim de perceber as implicações ambientais da ação humana e nesse percurso, são instigados a buscar soluções.

Entre os desdobramentos de tal exposição, surgiu a idéia de reunir professores e pesquisadores da área da educação, ciência e tecnologia e articulação social a fim de propor  um diálogo entre estes temas a fim de discutir possíveis ações educativas tendo como horizonte uma idéia de “sociedade mais justa e ambientalmente sustentável.”

 O  Encontro : trabalho em rede. Diálogos entre educação, articulação social e desenvolvimento sustentável, aconteceu  no SESC Itaquera, São Paulo, no dia 16/3/2012 e começou com Danilo Santo Miranda, diretor Regional do SESC-SP, discutindo Cultura e Educação e a educação como cultura,  onde defendeu a ideia de uma sociedade educativa em que o desenvolvimento econômico e tecnológico podem gerar outras perspectivas de mudança  do ponto de vista social e outras formas de pensar  a educação . Em seguida, Viviane Mosé falou sobre  Conflitos de Energia: necessidades, desejos e a busca pela sobrevivencia humana destacando  a construção de novos valores nessa sociedade em mudança, onde a educação só terá sentido se for voltada para a vida.
No painel Educação, Tecnologia e Articulação Social, com participação do prof. Fábio Botelho Josgrilber  e da profª Maria da Glória Marcondes Gohn,  comecei abordar o tema partindo do ponto de vista da educação com as perguntas: que pessoas  estamos formando? Que mundo estamos deixando como herança presente e futura às crianças e aos jovens hoje e em devir? Temos trabalhado a produção de subjetividades na escola no sentido da construção de identidades individuais e culturais como reconhecimento da diversidade e pertencimento?
Tendo como pressuposto a idéia de F. Guattari, de que precisamos avançar a discussão no sentido de pensar uma articulação ético-política, “ecosofia”, entre os registros ecológicos:  do meio-ambiente, das relações sociais,  e da subjetividade humana; e que  se a ideia de sustentabilidade coloca o sujeito em perspectiva, precisamos perguntar no presente como vai ser a vida no futuro, considerando que as instituições tradicionais não estão mais respondendo às questões identitárias referentes à construção de sentido diante da complexidade do mundo contemporâneo.

Ao recuperar o conceito de noosfera e ecologia da mente, do jesuíta Theilhard de Chardin, a intenção era de lembrar que assim como há a atmosfera, há também o mundo das idéias - formado por produtos culturais, pelo espírito, pelas linguagens, teorias e pelos conhecimentos - que alimentamos quando pensamos e nos comunicamos. Nesse processo, haveria um “estado do olhar” ou uma leitura comunicacional do mundo social (e dos seres vivos) que entende a comunicação não apenas como um ato individual de um para outro e sim como um fato cultural, uma instituição e um sistema social, ou seja, uma “orquestração ritual, eminentemente sensível e sensual”, como dizia  Gregory Bateson.

Nesse processo comunicacional e nessa noosfera, um novo espírito de ambientalismo  pode haver vários cruzamentos:  o tecnológico com bio-social, o biológico com o biofísico, e o social com o simbólico, como diz Manuel Pinto. E essa idéia de clivagem do simbólico com o resto da vida, remete às interações que existem entre esses vários níveis de comunicação.

Pensar a comunicação da sociedade contemporânea implica pensar no protagonismo da mídia e isso sugere a necessidade da mídia-educação. Afinal, na sociedade da informação/do conhecimento e na sociedade em redes, a informação está disseminada em todos os espaços e o conhecimento como certeza e incerteza  é atravessado por outra sensação: o medo. O medo da natureza (que vai acontecer com o planeta? Retomando um problema pré-modernos), o medo diante da insegurança (promovida por tantos tipos de violência a que somos submetidos), e o medo do novo (sobretudo diante das incertezas e das interações promovidas pelas “novas” tecnologias).

A constatação de que as ferramentas da “web 2.0” estão transformando as práticas individuais e sociais, que a multimedialidade propicia novas formas de sociabilidade  e que a portabilidade e conectividade permite maior autonomia em relação aos consumos midiáticos, a interatividade provocada pelos “novos meios” promove outras práticas culturais que interpelam os que trabalham com educação.

Nesse sentido, algumas  dimensões da cidadania no século XXI vão requerer  um grau de conhecimento que até agora poucos de nós têm, e isso requer um sujeito que saiba não apenas ler/interpretar os produtos da mídia e da tecnologia, mas que também seja capaz de questionar suas estratégias e se expressar  nessas e em outras direções. E isso sugere a idéia de uma cidadania instrumental e de pertencimento social, como diz Rivoltella.

Considerando a distância entre os que têm e os que não têm acesso ao acervo da cultura propiciado pelas mídias, o papel da escola hoje se amplia em relação às mídias  tradicionais, e a questão não é apenas evitar o consumo passivo mas sobretudo educar para um consumo e uma produção responsável, visto que os sujeitos são cada vez menos simples leitores e cada vez mais produtores de mídia. Nesse sentido, a idéia de inclusão digital vai além da dimensão do acesso e deve ser também uma inclusão social, política e cultural.  

E é aqui que entra a mídia-educação, seus objetivos e perspectivas  no sentido de uma concepção ecológica de mídia-educação que implica fazer educação usando todas as mídias (fotografia, rádio,cinema, televisão,  computador, internet, celular, videogame, redes sociais) recuperando o lúdico, o simbólico, o corpo em movimento e o contato junto a natureza. Afinal, não podemos deixar de discutir qual o papel da escola e dos professores diante da pergunta: quando crianças e jovens mergulham nos ambientes multimídia da cultura digital, eles se distanciam (ou se distanciariam) da experiência física dos ambientes naturais?

Pensar nesses espaços e ambientes no s leva a imaginar uma reconfiguração da escola a partir das dimensões tecnológicas, organizativas e simbólicas da mídia-educação  pensando também a formação profissional e o novo perfil do professor, e a necessidade de construir suas competências midiáticas, tecnológicas e culturais a partir de uma ideia de sustentabilidade.

Assim, como criar projetos com produção de sentidos ética e esteticamente tocados pela diversidade e sustentabilidade? Alguns projetos e diversas boas práticas observadas em uma pesquisa sobre Os usos das mídias, os consumos culturais e a formação de professores em mídia-educação parecem ir nessa direção. Entre tantas experiencias, citamos o projeto Guardiões de energia*, que está estreitamente vinculado à temática que suscitou o referido encontro, como uma possibilidade de uma prática didática, mídia-educativa e sustentável que pode fazer a diferença.

* O projeto coordenado pela Profª de Biologia, Elaine Seiffert, na  E. B. João G. Pinheiro, em Florianópolis, SC, recebeu apoio da Eletrosul e o prêmio Bandeira Verde, do Programa Eco-Escolas (Projeto educativo internacional promovido pela ong  Foundation for Environmental - FEE com apoio da Comissão Européia)  por cumprir os 7 passos programa: Conselho Eco-Escolas, Auditoria ambiental, Plano de ação, Monitorização/Avaliação, Trabalho curricular, Divulgação à comunidade, Eco-código do qual fazem parte.


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