domingo, 8 de dezembro de 2013

UCA na Bahia e em Santa Catarina

    


O que o Programa Um Computador por Aluno promoveu de mudanças na escola na prática pedagógica? Após dois anos de trabalho a respeito do PROUCA na Bahia e em SC, os resultados da pesquisa desenvolvida em parceria interinstitucional entre UFSC, UDESC e UFBA foram apresentados no II Seminário UCABASC, (Des)caminhos de uma Política Pública?, evento que aconteceu na UFBA, Salvador, nos dias 3 e 4/12/2103. O evento contou com a participação dos coordenadores da pesquisa, Elisa M. Quartiero/UDESC, Maria Helena Bonilla e Nelson Pretto/UFBA, Monica Fantin/UFSC, de interlocutores como  Tania Hetkowski/UNEB, Adriana Bruno/UFJF, Tel Amiel/UNICAMP, Lindomar Boneti/UFPR, e Paulo Cysneiro/UFPE, além do consultor internacional da pesquisa, Pier Cesare Rivoltella, da Università Cattolica di Milano, e de professores e diretores das escolas participantes da pesquisa.

Durante o evento, foram discutidos os diversos olhares sobre o Programa, com análises sobre a gestão macro e micro(como o programa foi criado e implantado entre as instâncias do governo federal, estadual e municipal até chegar às escolas), sobre a prática pedagógica (olhares de professores e alunos sobre o latpop na sala de aula) e sobre a possibilidade das redes de trabalho colaborativo. Além de observação participante para acompanhar o cotidiano escolar, durante a pesquisa foram desenvolvidas algumas intervenções didáticas em determinadas escolas envolvidas no programa, tanto com formação de professores quanto com propostas pedagógicas em sala de aula. Também foram realizados questionários, entrevistas e grupos focais envolvendo gestores, professores e alunos.

O evento também inaugura uma proposta de apresentação de resultados da pesquisa pouco comum na área da educação em nosso país ao discutir as análises com colegas professores e pesquisadores convidados a fazer comentários e também com professores que participaram da pesquisa nas escolas. A diversidade de práticas encontradas revela singularidades e também certas regularidades presente nos diferentes cenários investigados, diluindo certas fronteiras por um lado e destacando as diferenças sócio-econômicas e culturais  por outro.

Entre algumas constatações, evidenciamos problemas infraestruturais com os equipamentos/laptop (pouca memória, tela pequena), falta de manutenção e reposição de laptop, precária banda larga nas escolas. Nos depoimentos dos professores, destacamos a dificuldade inicial com a máquina, o modelo de formação adotado no programa e os desafios da inserção da tecnologia na sala de aula para que realmente se configure em mudança e inovação na perspectiva de uma inclusão digital que seja também social e cultural. A maioria dos usos do laptop em sala de aula se refere à pesquisa e produção textual em múltiplas linguagens (escrita, imagética, audiovisual), blogs e outras atividades. Para alguns professores, a prática pedagógica continua a mesma que antes se fazia com computadores na sala informatizada, para outros, houve uma mudança na metodologia de trabalho e para outros ainda, faz pensar diferente.

Para a maioria dos alunos que participaram da pesquisa, a escola com o UCA ficou mais divertida e a preferência de usos do laptop se evidencia nas motivações que a tecnologia promove nos jogos e nas interações em redes sociais. Além da dimensão de acesso e inclusão pela posse do laptop para levar para casa, verificamos que em contextos de exclusão e privação econômica, o “uquinha” - como é chamado por alguns - pode fazer a diferença no sentido de pertencimento. Em outras situações, a exigência é por uma máquina “de verdade” e “moderna” com acesso à rede e com velocidade. Entre algumas sugestões dadas, a dica para que o programa se amplie para outras escolas e que os professores utilizem mais o laptop em suas aulas.

Algumas tensões nas falas de professores e alunos evidenciam certas dificuldades diante dos limites da máquina, e certos dilemas sobre os usos do laptop e das redes sociais em sala de aula com o argumento da perda de foco, da falta de atenção dos alunos e do uso ou não de filtros ou bloqueios.  Também destacamos o desafio da articulação entre os saberes e as práticas culturais dentro e fora da escola com o uso do laptop no contexto da cultura digital.

Entre tantas questões a serem aprofundadas, observamos que tais considerações não são exclusivas desta realidade investigada e referendam resultados encontrados em outras pesquisas desenvolvidas no país e no exterior, o que nos leva a problematizar as políticas públicas que seguem o mesmo formato há anos e anos ... e o que é ainda mais preocupante, sem considerar os resultados das pesquisas feitas. Nesse sentido, visando contribuir com tal discussão, o II Seminário produziu a Carta de Salvador para a sociedade brasileira e para o Ministério da Educação.

E para tentar responder a pergunta do início do post, uma pérola que sintetiza diversas análises na singela fala de um menino que quando perguntado sobre o que havia mudado na escola com o UCA, respondeu algo mais ou menos assim: “continua igual, só está mais tecnológica”. 
Sem comentários!!!

Mas como nem só de análises e discussões formais se constrói um evento científico, não poderia deixar de registrar a importância dos momentos informais e dos encontros que fortalecem os vínculos e outros olhares para a diversidade de questões em pauta. Entre as luzes, as cores e as boas energias da baía de todos os santos e dos orixás, os encontros em confrarias, acquas, pós-tudos e paraísos tropicais com seus inusitados sabores e sotaques que certamente permanecem na “memória coletiva” do evento e que anunciam outras continuidades possíveis... 

Por fim, minha gratidão pelos belos momentos vividos junto a este e outros grupos que fizeram parte dessa história.

  

Nenhum comentário: