sábado, 22 de outubro de 2016

Atualidade de Bruno Munari, Sociologia Relacional e EAS DAY



Nesta semana começou o ciclo de conferências sobre atualidade de Bruno Munari, promovido pelo MUBA  e dedicado a temas munarianos, como: criança, imagem, palavras, arte, design, livros com os convidados: Alberto Munari (Munari e a pedagogia), Giorgio Lucini (Munari e os livros), Giovanni Anceschi (Munari e a arte), Stefano Salis (Munari e as imagens), Stefano Bartezzaghi (Munari e as palavras). No primeiro encontro realizado no dia 18/10/2016,  Alberto Munari iniciou algumas reflexões sobre o pensamento e a obra de Bruno Munari  a partir de um olhar autobiográfico. Ele chamou a atenção para o quanto seu pai era observador/observado, e citou  pequenas passagens de sua infância que demonstravam o quanto seu pai estava atento ao olhar infantil, que por vezes se construía como fulgurações a partir de suas provocações sobre a natureza e sobre o mundo. Falou do percurso criador e das inspirações fortuitas do cotidiano que se tornaram livros, poesia e tantas outras obras Munari que acompanhava desde pequeno. “Observar para entender ou entender para observar?”, provocou ele, argumentando sobre os processos diferentes mas indissoluvelmente ligados e  com isso reafirmou a importância da prática  da observação para promover a “consciência da existência de um universo de escolhas possíveis”, objetivo que Munari perseguiu ao longo de sua vida.  Pode parecer óbvio, mas o óbvio também precisa ser dito, pois entre tantas escolhas que fazemos no dia-a-dia e na pesquisa, perguntar se não é possível fazer de outro modo, é uma pergunta da ciência  mas que as crianças também nos fazem... e podemos reaprender a perguntar com elas, com toda transversalidade do seu pensamento.


Das perguntas e observações à análise semântica das relações sociais foi um salto propiciado pelo VII Seminario Nazionale di Sociologia Relazionale, no dia 20/10/2016, na UCSC. O seminário foi uma forma de homenagem ao Prof. Pierpaolo Donati, professor da Università degli Studi di Bologna, que acabou de se aposentar. O sociólogo e filósofo italiano é figura central da epistemologia relacional das ciências sociais, que reinterpretou a sociologia e filosofia moderna à luz das virada relacional. No contexto desse novo paradigma relacional, o tema do encontro foi a metodologia de pesquisa, que entre outros,  transitou pela superação da contraposição entre realismo e construtivismo, entre individual e holístico, na perspectiva de operar com os novos conceitos propostos e entender o “espaço relacional como espaço semântico”. Em relação às pesquisas sobre sociologia relacional e análise do social network análise semântica, Donati pontuou o desafio  da tentativa de “medir” o emergente. Também ponderou a importância de irmos além da análise qualitativa que é descritiva, e se isolada não leva a lugar algum, o que nos leva a pensar na quali-quanti, pois na análise relacional precisamos entender o que aconteceu e por que,  entender que os mecanismos relacionais não são causais  para poder se aproximar do emergente. Em seguida, diversos pesquisadores e debatedores que discutiam a importância obra de Donati  na pesquisa em geral, não apenas na pesquisa sociológica, também comentaram o livro lançado naquela ocasião “Lessico della sociologia relazionale”. Por fim, o próprio Donati concluiu os trabalhos  com chave de ouro, “o léxico da sociologia relacional  italiana  no panorama internacional: originalidade e desafios futuros.   Ao me aproximar desse paradigma que me parece de uma força extraordinária e chave de leitura para qualquer área, fiquei pensando na bela homenagem de uma obra que é fundamento tanto para o uso científico como para o âmbito didático, ou seja, que diz respeito aos aspectos de uma ontologia relacional como aos aspectos estruturais da pesquisa educativa em geral. Sem dúvida um belo material para se debruçar futuramente.

Do método de análise relacional à metodologia EAS para compreender o currículo, foi um dia.  Na terceira edição do EAS DAYocorrida no dia 21/10/2016, em Brescia, com o tema "EAS, educação para compreender o currículo", aliás, como tenho acompanhado o evento ano a ano, vale registrar o quanto aumenta o n. de participantes e de professores que tem adotado a referida metodologia nos diferentes níveis de ensino. A partir de uma síntese sobre aspectos históricos do currículo na escola italiana para chegar na fase atual, o destaque para as necessidades didáticas e culturais que o currículo hoje deve atender. Rivoltella destacou a função cultural do currículo para favorecer  a necessidade de “dar ordem aos caos”, em referência ao pensamento de Deleuze e Guattari. Para estes autores, as três grandes formas de pensamento – arte, ciência e filosofia – se distinguem pela natureza do plano traçado e daquilo que o ocupa. A filosofia traça um plano consistente; a ciência define o estado de coisas, as funções ou proposições referencias e conceituais; e a arte compõe sobre ação de figuras estéticas. Ou seja, para Rivoltella isso tudo também se faz no currículo e especificamente no EAS: ao articular o macro-micro do planejamento, o EAS desenha um plano, fixa conceitos e povoa o plano com personagens. E ao esclarecer cada aspecto, destacou as implicações  de trabalhar o currículo com EAS: o currículo breve e a possibilidade de selecionar os conteúdos do currículo a partir de sua disponibilidade e transferência, ou seja, a partir da validade e adequação e de sua possibilidade de transferir e aplicar o que se aprende em outras situações. Essa transferência de saber constrói e desenvolve o pensamento analógico, a capacidade intelectiva e as competências. Em síntese, os EAS promove a educação lenta, produz conhecimentos, desenvolve o pensamento e as competências, sempre considerando professores e estudantes protagonistas de tais processos... Em seguida, os workshops que possibilitaram operar tais ideias. 
Enfim, uma semana e tanto!!! 
  

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