Sempre gostei do mês de setembro, pois junto com ele, simbolicamente, vem o tempo vida renascer em flores e como diz letra da canção Sol de Primavera, de Beto Guedes, “Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos”. No entanto, o mês de setembro começou com não muito boas novas para mim.
A notícia
da perda de um amigo querido, Francisco Passos. Médico de crianças e de saúde
pública, estudioso de psicanálise que me apresentou Françoise Doltô, também
médica e psicanalista de crianças cujo propósito era “despertar o público de adultos, que vivem em
contato com as crianças, ao fato que o ser humano é antes de tudo um ser de
linguagem. A linguagem exprime seu desejo inextinguível de reencontrar o outro,
semelhante ou diferente dele, e de estabelecer com ele uma comunicação”. Passos,
Valéria, André e Vitor também trouxeram a alegria da festa junina de rua,
típica de Teresina para nossa rua de Floripa, nos tempos em que aqui moraram e
que tive a sorte de tê-los como vizinhos queridos que se tornaram amigos mais
que especiais.
Agora começa outubro e fico sabendo que o grande e inestimável Selvino
Assmann nos deixou. Mestre com quem aprendi a pensar a filosofia, suas aulas no
PPGE eram das mais concorridas e suas traduções um convite à leitura e a mil
interpretações. Inteligente,
sensível, generoso, bem humorado, cada
encontro com ele tornava a vida mais leve. Uma pessoa, um professor e um intelectual
inesquecível, que vai fazer muita falta.
Mas nesse interregno, entre as ausências que deixam as boas lembranças, o carinho e a gratidão por essas pessoas queridas, setembro também teve momentos de homenagens a outras pessoas queridas que fizeram e fazem parte de minha trajetória acadêmica.
Fui convidada a prestar uma singela homenagem à Gilka Girardello, por
ocasião de sua aposentadoria. Não é tarefa fácil falar de alguém que marcou
profundamente, a quem devo muito das aprendizagens profissionais e pessoais e com
quem tive a oportunidade de explorar campos do conhecimento, construir
parcerias e muitos outros projetos unindo ensino, pesquisa e extensão.
Estudiosa, atenta e bem informada, seus temas de pesquisa – criança, narração
de história, comunicação, imaginação, arte, mídia, cultura, escola – são pistas
de um saber pedagógico e pontos chaves da formação. Orientadora que se tornou
colega, amiga e parceira na coordenação do grupo de pesquisa Núcleo Infância,
Comunicação, Cultura e Arte. Entre tantas marcas e rastros que Gilka - professora,
jornalista, pesquisadora, contadora de histórias - deixa, sua generosidade, disponibilidade e solidariedade fazem a diferença em qualquer situação.
Setembro também trouxe a publicação de uma homenagem da Revista Motrivivência ao
professor Pier Cesare Rivoltella. Como recusar um convite de Giovani Pires para
escrever algo sobre Rivoltella? Orientador que também se tornou colega e parceiro de pesquisa, seu trabalhos de ensino, pesquisa, intervenção e parcerias revelam seu interesse inter e transdisciplinar em interlocução com diferentes áreas do saber. Seu método de trabalho e sua capacidade de leitura política e pedagógica de temas culturais e educativos revelam uma extraordinária capacidade de síntese, ao lado da pluralidade de interesses, da curiosidade intelectual e do desejo de ampliar suas fronteiras. Se a homenagem que mencionei a Gilka foi num contexto de
oralidade, com um texto apenas para orientar a busca de palavras que expressassem sentimentos de gratidão, afeto e trabalho, agora as palavras sobre Pier Cesare se eternizaram num
texto que certamente teria muito mais a dizer. Espero sinceramente que não
faltem outras oportunidades para tal, pois nossa vida parece ser como a licença
poética com que termino o referido texto, E quello che di più bello vorrei dirti ancora non te
l'ho detto.