domingo, 1 de outubro de 2017

Quando entrar setembro/outubro: entre perdas e homenagens


Sempre gostei do mês de setembro, pois junto com ele, simbolicamente, vem o  tempo vida renascer em flores e como diz letra da canção Sol de Primavera, de Beto Guedes, “Quando entrar setembro e a boa nova andar nos campos”. No  entanto, o mês de setembro começou com não muito boas novas  para mim. 

A notícia da perda de um amigo querido, Francisco Passos. Médico de crianças e de saúde pública, estudioso de psicanálise que me apresentou Françoise Doltô, também médica e psicanalista de crianças cujo propósito era “despertar o público de adultos, que vivem em contato com as crianças, ao fato que o ser humano é antes de tudo um ser de linguagem. A linguagem exprime seu desejo inextinguível de reencontrar o outro, semelhante ou diferente dele, e de estabelecer com ele uma comunicação”. Passos, Valéria, André e Vitor também trouxeram a alegria da festa junina de rua, típica de Teresina para nossa rua de Floripa, nos tempos em que aqui moraram e que tive a sorte de tê-los como vizinhos queridos que se tornaram amigos mais que especiais.

Agora começa outubro e fico sabendo que o grande e inestimável Selvino Assmann nos deixou. Mestre com quem aprendi a pensar a filosofia, suas aulas no PPGE eram das mais concorridas e suas traduções um convite à leitura e a mil interpretações.  Inteligente, sensível,  generoso, bem humorado, cada encontro com ele tornava a vida mais leve. Uma pessoa, um professor e um intelectual inesquecível, que vai fazer muita falta.

Mas nesse interregno, entre as ausências que deixam as boas lembranças, o carinho e a gratidão por essas pessoas queridas, setembro também teve momentos de homenagens a outras pessoas queridas que fizeram e fazem parte de minha trajetória acadêmica.

Fui convidada a prestar uma singela homenagem à Gilka Girardello, por ocasião de sua aposentadoria. Não é tarefa fácil falar de alguém que marcou profundamente, a quem devo muito das aprendizagens profissionais e pessoais e com quem tive a oportunidade de explorar campos do conhecimento, construir parcerias e muitos outros projetos unindo ensino, pesquisa e extensão. Estudiosa, atenta e bem informada, seus temas de pesquisa – criança, narração de história, comunicação, imaginação, arte, mídia, cultura, escola – são pistas de um saber pedagógico e pontos chaves da formação. Orientadora que se tornou colega, amiga e parceira na coordenação do grupo de pesquisa Núcleo Infância, Comunicação, Cultura e Arte. Entre tantas marcas e rastros que Gilka - professora, jornalista, pesquisadora, contadora de histórias - deixa, sua generosidade,  disponibilidade e solidariedade fazem a diferença em qualquer situação.


Setembro também trouxe a publicação de uma homenagem da Revista Motrivivência ao professor Pier Cesare Rivoltella. Como recusar um convite de Giovani Pires para escrever algo sobre Rivoltella? Orientador que também se tornou colega e parceiro de pesquisa, seu trabalhos de ensino, pesquisa, intervenção e parcerias revelam seu interesse inter e transdisciplinar em interlocução com diferentes áreas do saber. Seu método de trabalho e sua capacidade de leitura política e pedagógica de temas culturais e educativos revelam uma extraordinária capacidade de síntese, ao lado da pluralidade de interesses, da curiosidade intelectual e do desejo de ampliar suas fronteiras. Se a homenagem que mencionei a Gilka foi num contexto de oralidade, com um texto apenas para orientar a busca de palavras que expressassem sentimentos de gratidão, afeto e trabalho, agora as palavras sobre Pier Cesare se eternizaram num texto que certamente teria muito mais a dizer. Espero sinceramente que não faltem outras oportunidades para tal, pois nossa vida parece ser como a licença poética com que termino o referido texto, E quello che di più bello vorrei dirti ancora non te l'ho detto.